14/09/1974: o futuro parecia finalmente ter chegado

Crônica de autoria Ayrton Camargo e Silva, vice-presidente da AEAMESP, premiada pela Academia de Letras do Mercosul.

Lembro-me que no começo daquele ano, um noticiário da TV anunciava para setembro o início da operação comercial do metrô, e que estavam sendo preparados os testes de circulação dos trens com sacos de areia, para simular o carregamento dos passageiros.

Por residir nas imediações da estação Santa Cruz, eu acompanhara cada momento das obras do futuro sistema. Na verdade, acompanhava desde antes, pois em todo eixo da Av. Domingos de Morais, com o extermínio por Faria Lima das últimas linhas de bonde que passavam por essa avenida, o mato passara a crescer entre os trilhos, na faixa ferroviária que não era asfaltada nem calçada.

Meses depois, no final de 1967, já era possível ver no antigo leito dos bondes, espaços com as estruturas de sondagens, cercadas por tapumes estampados com os logotipos das empresas que fariam as obras do novo sistema.

Emoção geral: era o metrô que estava chegando…

Ayrton Camargo e Silva

Mas os serviços pesados ainda estavam por começar: o barulho inesquecível dos bate-estacas que, por infinitos meses, cravaram os perfis metálicos que escoraram as obras da vala em trincheira, o tráfego desviado para as vias paralelas da avenida, as desapropriações, os cinemas que fecharam, tudo para que, sob a terra, uma cidade nova começasse a nascer.

No final de 1973, talvez já em 1974, apareceram em pontos estratégicos do bairro, kombis, que distribuíam bilhetes para as visitas controladas no metrô, que começava a dar os primeiros sinais de vida. Bastou isso para o garoto de dez anos, que observava surpreso todo esse processo, infernizar seu pai para enfrentar a fila e pegar as disputadas senhas para a próxima visita controlada.

Definida a data, fomos para a estação Jabaquara, um grande canteiro de obras, com tábuas no chão, fios pendurados pelas paredes, lâmpadas improvisadas. E embarcamos no trem. Um trem moderno, uma comunicação visual inovadora e surpreendente, totalmente diferente de tudo que havia visto até então.

O grande dia chegara: em frente ao Colégio Arquidiocesano, na estação Santa Cruz, o palanque das autoridades. E todas essas lembranças, que se atropelavam ante o futuro, que finalmente começava. Na avenida reaberta, desfile de bandas e fanfarras. Para a garotada, bandeirinhas e chapeuzinhos de papel com a logomarca do Metrô, até hoje no fundo da gaveta…

Esse 14 de setembro parecia simbolizar um rito de passagem, de uma cidade que finalmente ingressava no futuro, e que passava a ter no seu metrô o melhor meio de transporte da cidade, um dos melhores sistemas mundiais de transporte urbano e um motivo de grande orgulho para todos os cidadãos, e sobretudo, para seus funcionários.

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Sobre

A Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô – AEAMESP, fundada em 14 de setembro de 1990, é uma entidade de fins não econômicos que agrega engenheiros, arquitetos, geólogos e outros profissionais de nível superior, devidamente registrados nos Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia – CREAs e de Arquitetura e Urbanismo – CAUs.