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Consequências das paralisações das obras do metrô

Local: Linha 15-Prata (monotrilho) – Foto: Claudio Pepper / Arquivo Metrô São Paulo

 

Artigo do Presidente da AEAMESP, Emiliano Affonso,‏ na revista RBC

 

Em 2014 previa-se a construção e expansão de sete linhas do Metrô, sendo três de monotrilhos, que acrescentariam 107 km e 98 estações a malha metroviária do estado, e junto com a melhoria da CPTM viriam a transportar mais 4 milhões de passageiros/dia útil.

 

Linha 15-Prata (monotrilho) - Foto: Claudio Pepper / Metrô de São Paulo

Linha 15-Prata (monotrilho) – Foto: Claudio Pepper / Arquivo Metrô de São Paulo

Ao longo de décadas acompanhamos a priorização do transporte individual, o abandono do transporte ferroviário e a colocação em segundo plano do transporte coletivo fazendo com que a mobilidade nas grandes cidades virasse um caos, porém, nos últimos anos começaram a soprar ventos de mudança: o Governo Federal aumenta as linhas de crédito, a Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP) assina convênio com o Estado para a ampliação da malha metroviária, o Governo do Estado de São Paulo (GESP) proclama a priorização de investimentos no transporte coletivo, sendo que em 2014 informava que estava viabilizada e em andamento a construção e expansão de sete linhas do Metrô, sendo três de monotrilhos, que acrescentariam 107 quilômetros e 98 estações a pequena malha metroviária do estado, e junto com a melhoria da Companhia Paulista de Trens Metropolitano (CPTM) viriam a transportar mais 4 milhões de passageiros/dia útil. Havia um clima de grande esperança de mudança na mobilidade apesar dos congestionamentos recordes nas cidades, do subsídio aos combustíveis fósseis, da explosão do número de carros e de motos e do visível estrangulamento das principais rodovias. As páginas negras da mobilidade urbana nas cidades brasileiras estavam sendo viradas. Porém, sinais indicam que algo estranho está ocorrendo. As exigências para a implantação de linhas metroviárias cresceram em progressão geométrica, aumentando prazos e custos. A falta de priorização na aprovação e implantação dos projetos são uma constante. A prefeitura de São Paulo descumpre o convenio assinado e não realiza, nem sinaliza prazos para as obras necessárias a implantação de trechos das Linhas 15 e 17. A Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) têm atrasado a liberação de recursos para as obras. No segundo semestre de 2015, o GESP informa a redução da expansão das linhas metroviárias para 71,6 km e 63 estações, postergando sem prazos compromissos assumidos com a população e diminuindo o incremento de passageiros em 1,2 milhões/dia útil. Das sete linhas metroviárias constante do plano de investimento cinco estão paradas ou com ritmo mais lento do que o previsto. No momento só será implantado o trecho Congonhas — Marginal Pinheiros da Linha 17 — Ouro, com isto ela transportará apenas 1/4 dos passageiros previstos e não atenderá regiões carentes de mobilidade e com comunidades de baixa renda, como a de Paraisópolis, prejudicando duplamente a população, pois as negociações para diminuição dos serviços e extensão dos prazos ou contratação de novas empresas provavelmente onerarão o preço do quilometro do empreendimento.

Obras da Linha 17-Ouro (monotrilho) - Foto: Metrô de São Paulo

Obras da Linha 17-Ouro (monotrilho) – Foto: Arquivo Metrô de São Paulo

Continuamos no caminho errado, incentivando o transporte individual e investindo pouco no coletivo. A Pesquisa Origem e Destino da Região Metropolitana de São Paulo RMSP mostrou que para um aumento da população de 2%, entre 2007 e 2012, houve um acréscimo de na frota de automóveis. A Cidade de São Paulo apresenta congestionamentos recordes com consequências nefastas para a economia e a poluição. Jogamos fora todos os anos bilhões de reais com a perda de produtividade e com o aumento dos custos com a saúde. Estudo apresentado pela professora Simone Georges Miraglia da Universidade Federal de São Paulo durante a 21 a Semana de Tecnologia Metroferroviária mostrou, apoiado em dados da Cetesb Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo paulista, mostrou que os benefícios do Metrô de São Paulo em termos da redução da poluição atmosférica e seus efeitos associados a saúde pública evitam custos da ordem de US$ 18  bilhões/ano. De acordo com o professor Eduardo A. Haddad da Universidade de São Paulo (USP), o Brasil perde R$ 156,2 bilhões/ano com a perda de produtividade causada pela morosidade do transito em São Paulo. Os moradores da RMSP gastam meia hora a mais do que deveriam no deslocamento entre as residências e os locais de trabalho. Segundo ele, se o excesso de tempo for eliminado o Produto Interno Bruto (PIB) nacional cresceria 2,83% e a cidade absorveria 50% do beneficio. E natural e salutar que diante de uma crise de grandes proporções, os governantes busquem maior critério nos gastos públicos, porém não podemos aceitar passivamente a paralisação e diminuição das obras do Metrô de São Paulo, pois a falta delas fará com que os congestionamentos e a poluição aumentem causando desperdícios bilionários e transformando o morador em cidadão de terceira categoria, sem tempo para conviver com suas famílias, visitar seus amigos e defender seus interesses. Medidas assim mostram a incompreensão a respeito de um aspecto cristalino, provado em outras latitudes e mesmo aqui no Brasil: investimentos públicos em empreendimentos de infraestrutura geram empregos diretos e indiretos, garantem retorno aos cofres públicos na forma de impostos e, no final das contas são fundamentais para a manutenção egeração de empregos, ajudando na retomada do crescimento e possibilitando que governos, economia e sociedade possam contar e usufruir das infraestruturas implantadas.

Emiliano Stanislau Affonso Neto

Veja a Revista Brasil Construção edição 11 – 2016:

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