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Na Alemanha, as receitas não tarifárias das estações ferroviárias alcançam 1,25 bilhão de euros anuais

Empresa ferroviária alemã reforma estações para aumentar espaços para comércio e serviços, mantém redes de farmácia e padarias e se associa a redes internacionais de fast-food e cafés

Oliver Wittki. Foto: Mara Siqueira

Casado com uma brasileira e pai de um garoto de sete anos que adora futebol, Oliver Wittik trabalha na DB Station& Service é analista de Marketing da DB International (Deutsche Bahn), empresa estatal responsável por todo o sistema ferroviário da Alemanha.

A DB Station & Service é responsável pelas estações de trem de todo o país, emprega cinco mil pessoas e tem receita anual de 1,25 bilhão de euros. Ao visitar as estações de metrô de São Paulo e Rio, Wittik disse que ficou assustado em ver tantas áreas livres e tão poucos espaços usados para comércio e serviços. Em sua palestra: “Relevância e fatos-chaves das receitas não operacionais nas estações ferroviárias – um estudo de caso da Deutsche Bahn AG na Alemanha”, Wittik afirmou que é nas estações que a empresa ganha mais dinheiro.

O Estado alemão é proprietário das estações e aluga todas as lojas para shopping center, bar, farmácia, café, restaurante, supermercado, padaria, lavanderia, entre outros estabelecimentos. A empresa explora alguns como redes de padaria, farmácia, café, nas estações em todo o país. As empresas de fast-food empregam sistemas modernos de vendas e pagamento por internet com hora marcada e o cliente é atendido sem perda de tempo.

As colocações de Wittik foram feitas durante conferência internacional de abertura da 23ª Semana de Tecnologia Metroferroviária, no dia 19 de setembro de 2017.

Segundo ele, as lojas das estações funcionam 24 horas todos os dias do ano, enquanto o comércio tem horário regulamentado e só abre por cinco domingos por ano. As estações de Hamburgo recebem 500 mil pessoas por dia, a de Frankfurt, 470 mil e a maior, de Berlin, recebe1,3 milhão de pessoas, em viagens de longa distância ou conexão para outros países. Por isso, estas estações foram reformadas e ganharam shopping centers. E o passageiro ao sair do trem ou ao embarcar passa antes pelas lojas. Os estacionamentos das estações é explorado pela Contipack, outra empresa do governo, que fatura 9 milhões de euros ao ano. A empresa estimula os moradores dos bairros a deixarem os carros no estacionamento da estação mais próxima para evitar congestionamentos.

A DB (Deutsche Bahn), que está presente em 140 países, já reformou as principais estações existentes na Alemanha visando o futuro, como em Stuttgart, Frankfurt e Munique. O setor de Marketing e Eventos do grupo, segundo Wittik,  produz uma revista de alta qualidade, que é distribuída aos passageiros com tiragem de um milhão de exemplares e quatro edições por ano.

FRANÇA ADOTA TRAMWAY E O CONSTRÓI NO MARROCOS

Com mais de 100 anos de existência, o metrô de Paris é dos mais antigos e completos e continua sendo ampliado.  Mais uma linha deverá ser inaugurada no ano que vem. Seus efeitos na mobilidade urbana e no desenvolvimento das proximidades das estações levaram as cidades médias francesas a adotarem o transporte sobre trilhos, que avançou também para além do território europeu.

Etienne Lhomet,

As informações foram prestadas pelo engenheiro civil francês de 55 anos especializado em mobilidade urbana Etienne Lhomet, um dos diretores da consultora DVDH – Des Villes et des Hommes, ao fazer na tarde de 19 de setembro de 2017, uma das duas conferências internacionais de abertura da 23ª Semana de Tecnologia Metroferroviária, Sua exposição teve por título Articulação urbanismo-transportes e a proposta francesa de desenvolvimento urbano através dos trilhos. A participação do especialista foi programada com o apoio do Consulado Geral da França em São Paulo e da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD).

Composição do sistema de Casablanca. Foto: RATP

Em Casablanca. Casablanca, a capital do Marrocos, com 5 milhões de habitantes já opera a primeira linha inspirada no sistema de Paris, porém com recurso adicional do ‘tramway’,  sistema alimentador dessa linha que é formado por um comboio de até 60 metros de comprimento que transporta em linhas férreas  de superfície e transporta entre 300 e 400 passageiros ou de 12 a 15 mil por hora. No Brasil esse sistema, chamado de VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, funciona desde o ano passado no Rio de Janeiro, ligando a região central com o Porto Maravilha, área reurbanizada para as Olimpíadas Rio’2016.

Na capital marroquina, o ‘ tramway’ interliga os bairros mais afastados às estações do metrô, que termina no centro da cidade. Ethiene Lhomet, diretor da empresa de consultoria DVDH (Des Villes e Des Hommes), descreveu sobre a “Articulação Urbanismo-Transportes e a Proposta Francesa de Desenvolvimento Urbano Através dos Trilhos”.  Ele mostrou que tanto nas cidades médias francesas, como Bordeaux, e Casablanca e Rabat, segunda cidade marroquina, os tramways atraíram em torno de suas estações uma série de serviços e edifícios de moradia e de escritórios, dispensando as viagens até o cento das cidades.

“Bordeaux, minha cidade natal, tem uma linha de trem-bala ligando a Paris numa distância de 600 quilômetros. A estação de trem, que já existia do sistema de anterior, foi renovada e dotada de estacionamento, ganhou áreas verdes e shopping-center, museu, além de edifícios comerciais. A área no entorno ganhou novo panorama e o que antes eram construções antigas, de estilo germânico, agora ficou arejada, passou a atrair moradores e oferecer empregos e serviços”.  Em Bordeaux as linhas de tramway somam 66 quilômetros, foram construídos em doze anos. Para isso foi criada uma empresa com recursos do governo e que administra o sistema e os imóveis que são alugados e contribuem para cobrir os custos e recuperar o investimento.

Em Rabat, o tramway circula silencioso a 20 km/h, com composições de 60 metros de comprimento com seis a oito passageiros por metro quadrado. No trânsito, o veículo tem preferência sobre automóveis e pedestres, que param porque o farol fecha assim que ele se aproxima.

“Esse sistema mostra que o transporte público é a espinha dorsal de uma área da cidade e traz serviços e valorização. As cidades, antes feitas para os automóveis, passou a ser do transporte público associado a bicicletas, pedestres, convivendo com táxi, Uber de preferência elétricos”.