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Cecília Guedes,do Metrô-SP, e Marina Harkot, da FAU/USP, debateram na AEAMESP temas referentes às mulheres no transporte. Na pauta, percepção do metrô, insegurança e mobilidade ativa

Duas especialistas fizeram na quarta-feira, 30 de agosto de 2017, as palestras de mais uma edição do encontro AEAMESP CONVIDA, desta vez, com o tema geral Mulheres e o Transporte. Cecília Guedes, do Metrô-SP, fez a exposição intitulada  Quem são as usuárias e como veem o Metrô-SP no seu dia a dia. Marina Harkot, pesquisadora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, se responsabilizou pela exposição que tinha por título: A pé e de bicicleta: como vão as mulheres paulistanas? A sessão foi coordenada pela conselheira da AEAMESP, engenheira Haydee Svab, e foi acompanhada pelo  vice-presidente de Atividades Técnicas, engenheiro Dionísio Gutierres, e por 25 associados e outros profissionais interessados.

Cecília Guedes

Percepção do Metrô-SP e segurança. Em sua explanação, Cecília Guedes fez uma caracterização das mulheres que são usuárias do metrô e apresentou informações a respeito da percepção e avaliação que elas fazem do sistema e das expectativas que têm com relação ao serviço.

Com base nesse contexto, Cecília abordou o tópico da insegurança no transporte, nos aspectos que são específicos para a mulher, focalizando a questão do abuso. E falou resumidamente do Programa contra o Abuso Sexual no Metrô de São Paulo, distinguido com um prêmio de âmbito latino-americano no Congresso da União Internacional de Transportes Públicos (UITP), realizado em maio de 2017 em Montreal, Canadá. “Falei sobre o programa para mostrar o que foi feito de efetivo.  Trata-se de um caso de sucesso, com bons resultados”, disse a especialista.

Cecília explicou que uma nova campanha, iniciada em 29 de agosto de 2017, intitulada Juntos podemos parar o abuso sexual nos transportes – coordenada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e que conta com envolvimento da CPTM, Metrô e EMTU e ônibus urbanos – será mais abrangente, pois alcançará a todos os meios de transporte, com maiores possibilidades de êxito.

Caso notório e emblemático. No dia anterior ao debate, justamente a data de lançamento da campanha Juntos podemos parar o abuso sexual nos transportes, aconteceu um fato significativo, amplamente divulgado pela imprensa: um homem foi preso na Avenida Paulista após abusar de uma mulher dentro de um ônibus. No dia do debate, ou seja, um dia após o abuso, o homem foi solto, pois, segundo a imprensa, o juiz na audiência de custódia entendeu que não houve ‘constrangimento tampouco violência’ no caso e considerou crime de menor potencial ofensivo.

O caso todo, incluindo a reação da Justiça, acabou sendo bastante discutido no encontro AEAMESP CONVIDA/Mulheres e o Transporte, sobretudo por exemplificar situações a que as vítimas são frequentemente submetidas: constrangimento nas delegacias policiais, perda de tempo em depoimentos e a sensação de impunidade, pois os agressores em boa parte das vezes são liberados, voltando a atacar. Na sexta-feira depois do debate, menos de 48 horas após ter sido liberado, o abusador foi novamente preso pelo mesmo delito, mas, dessa vez, o delegado encarregado solicitou sua prisão preventiva, o que foi acolhido pela Justiça no final da semana.

Manutenção e suporte. No debate, um dos pontos evidenciados foi que as campanhas de comunicação conseguem bons resultados inicialmente, mas tendem a ter seu impacto arrefecido com o passar do tempo, cabendo um trabalho de manutenção. Cecília concordou, mas fez questão de sublinhar que não se trata apenas de uma questão de chamar a atenção para o problema. “A comunicação tem essa função, mas é preciso que haja uma estrutura de apoio às mulheres que são vítimas. Não adianta apenas ficar passando mensagens, a segurança tem que funcionar. Nosso atendimento tem que funcionar”. Ela acrescentou que o atendimento no Metrô-SP tem um bom nível, havendo aspectos que podem ser ainda melhorados.

Marina Harkot

Mobilidade ativa.  A exposição de Marina Harkot teve como base os temas que são objeto de tese de mestrado em andamento na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, incluindo o tema da insegurança das mulheres em seus deslocamentos na cidade. Em sua tese, ela busca entender, a partir da perspectiva da mobilidade ativa, como o andar a pé e de bicicleta também fazem parte do nosso sistema de mobilidade e como as mulheres se movem pelo espaço urbano com esses dois recursos.

Marina acrescenta que é sempre importante também abordar a questão da acessibilidade, ou seja, as condições que as mulheres encontram para se deslocar de suas casas até o transporte público e deste até o destino final, considerando, nesse contexto a insegurança, o medo da rua, o assédio e o abuso a que estão sujeitas.

A pesquisadora falou também  sobre a integração da bicicleta com o metrô e como isso pode ser benéfico para as mulheres. E chamou a atenção para um problema: como o planejamento dos sistemas de transporte de massa vem sendo feito de maneira desconectada com os modos ativos.